A ONU precisa de uma nova missão: efetuar as coisas

A ONU precisa de uma nova missão: fazer as coisas

No dia 22 de Setembro, os delegados presentes na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, aplaudiram após a aprovação do Pacto para o Futuro. Composto por 56 promessas — sobre questões como a paz e a segurança, o avanço sustentável, as alterações climáticas e os direitos humanos — o pacto seria mais apropriadamente denominado Lista de Lavar Roupa para o Futuro. Em vez de aplaudir um plano, seria melhor se os delegados pudessem comemorar os resultados.

Estava patente o que, na minha opinião, está errado com a ONU: o fracasso na execução do que já foi acordado. Em 2015, os países membros assinaram os 17 Objectivos de Progresso Sustentável (ODS), compreendendo 231 indicadores únicos e 169 metas a serem alcançadas até 2030. Apenas 17% das metas estão no caminho certo.

Com base na minha experiência como conselheiro especial durante seis anos de Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), penso que os planos da ONU precisam de outro acrónimo: GSD, para Get Stuff Done.

A ONU sofre com a doença do planejamento. Um órgão de sucesso deve ter 10% de planejamento e 90% de execução. Na ONU é o contrário. Os planos devem evoluir com base nos resultados. Alcançar os ODS exige acção e não mais planeamento. E isso não acontece por declaração de consenso. A menos que a ONU volte a concentrar-se na execução, ficará atrasada nos resultados. E só os resultados — melhorias tangíveis e mensuráveis ​​na vida das pessoas — criarão confiança no sistema da ONU.

Trabalhei com a OMS para ajudar a transformá-la numa organização baseada em resultados. Estabelecemos uma filosofia de impacto mensurável e alocamos verbas extras aos escritórios nacionais. Combinámos 34 indicadores dos ODS relacionados com a saúde para criar três metas de “três mil milhões”, cada uma destinada a melhorar a saúde e o bem-estar de mais de mil milhões de pessoas até 2025. E desenvolvemos uma abordagem para medir e gerir o progresso. Contudo, estas reformas ainda não foram totalmente incorporadas no orçamento e na governação da OMS.

Na verdade, a governação pelos Estados-Membros é o primeiro e mais essencial elemento da DSG. É a fonte de incentivos e de responsabilização no sistema da ONU. Até que os Estados-membros exijam uma ONU mais baseada em resultados, isso não acontecerá.

Mas imagine se as reuniões do órgão de governo de cada agência da ONU começassem com uma análise honesta do progresso nos ODS relevantes para essa organização. As agências poderiam identificar os países que estão a ter bons resultados e os que não estão, e como estes últimos poderiam melhorar o seu desempenho. Poderia examinar o que a agência está a efetuar para apoiar as nações, o que poderia efetuar melhor e até que ponto está a trabalhar com outras organizações para apoiar os países.

Isto não acontece hoje nas reuniões das agências da ONU. Não há cultura de resultados. Por que? Porque falar é divertido, os resultados são difíceis e as pessoas odeiam responsabilidades.

Os dados são o segundo elemento crucial. Só por dentro de de um balanço honesto, utilizando dados — e do avanço de formas de os traduzir em resultados — o sistema da ONU poderá melhorar a forma como ajuda os países a cumprir os ODS.

A inovação é a terceira. A ONU está numa posição única para ajudar as nações a ampliar as inovações, desde que cheguem a milhões de pessoas até dezenas, ou mesmo centenas, de milhões de pessoas.

Quais são as principais objeções a esta abordagem? Primeiro, a maioria das pessoas pensa na ONU como uma organização política centrada na paz e na segurança – e é. Mas trata-se similarmente de alcançar resultados económicos e sociais, tal como estabelecido nos ODS.

Em segundo lugar, muitas pessoas gostam de se concentrar em “vitórias fáceis” em áreas como a migração, a inteligência artificial e o financiamento, onde poderá ser provável alcançar algo mesmo face à burocracia da ONU e à terrível geopolítica. Há algo a ser dito sobre esta abordagem, mas ela não colocará os ODS de volta no caminho certo.

Terceiro, os resultados exigem a liderança do país. Um exemplo é David Sengeh, o ministro-chefe da Serra Leoa. Ele possui doutorado pelo Massachusetts Institute of Technology em Cambridge e tem trabalhado para promover a inovação, inclusive em membros protéticos, tema de sua tese. Seu mantra e hashtag de mídia social são #WeWillDeliver. Mais disso, por favor!

A ONU pode controlar o que as suas agências fazem. Existem boas práticas nas quais recorrer. O Pacto para o Futuro tem uma iniciativa chamada ONU 2.0, que trata de dados e inovação, mas não está ligada à governança.

Uma forma de a ONU começar a obter resultados é responsabilizar as suas agências. Poderia desenvolver um quadro de resultados que avaliasse as agências sobre a forma como cada uma apoia os países na consecução dos ODS. A OMS já tem um: o painel de entrega global, que poderia ser adaptado à ONU (ver go.nature.com/4djs5ed).

Este scorecard poderia ser desenvolvido para avaliar até que ponto as agências trabalham bem em conjunto. A OMS e 12 agências multilaterais relacionadas com a saúde conduziram um inquérito no qual funcionários públicos avaliaram as organizações com base na forma como trabalharam em conjunto e na forma como seguiram as prioridades dos países (ver go.nature.com/4ecmtaw).

A medida poderia ser melhorada por dentro de das avaliações da Rede de Avaliação do Desempenho das Organizações Multilaterais, que já avalia agências multilaterais individuais. Estes devem ser expandidos para comparar agências.

Depois, a ONU pode utilizar o quadro de resultados para alocar recursos entre e dentro das agências com base no desempenho. E verificar os progressos e as barreiras nas reuniões dos órgãos dirigentes das agências.

É daquele modo que se faz as coisas.

Interesses Concorrentes

O autor declara não haver interesses conflitantes.

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